quarta-feira, 10 de novembro de 2010

POÇOS DE CALDAS NO FIM DO IMPÉRIO

Dom Pedro II é uma das figuras mais interessantes da história do Brasil. O Imperador subiu ao trono com apenas 15 anos de idade, em 1840, na sucessão de seu pai, Pedro I, após este abdicar (em 1831) para retomar a Coroa em Portugal.
 
Foi um grande incentivador da cultura. É dele a frase “Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro”. Quem teve chance de conhecer, por exemplo, parte do espetacular acervo fotográfico do Imperador, sabe de seu apreço pela multiplicação do conhecimento. Impossível também falar de Pedro II sem destacar sua defesa pelo fim da escravidão.
 
D. Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, brasileiro, carioca, reinou até a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, deposto pouco mais de um ano depois de ver assinada -por sua filha e herdeira, a Princesa Isabel- a Lei Áurea, que extinguiu o regime escravo no País.
 
É justamente no final do Segundo Império que a história de Poços de Caldas, como cidade, tem início. O livro “Synthese Historica e Crenologica”, obra obrigatória do Dr. Mario Mourão, publicada em 1933, relata que o Coronel Agostinho Junqueira ouvira de seus antepassados que os Poços de Caldas foram descobertos por caçadores, que observaram a presença de grande quantidade de animais nos “bebedouros” que afloravam na região, já em 1815, quando o avô do Coronel fundou a Fazenda Barreiro.
 
Somente meio século depois, em 1865, o governo de Ouro Preto (antes Vila Rica, denominada, em 1823, por decreto, “Cidade Imperial”, capital da província de Minas Gerais) mandou à região um engenheiro, para confeccionar uma planta da cidade e avaliar o investimento necessário para construir um balneário. Esse mapa (abaixo) aponta que não havia uma única casa na região.

Em 1870 o governo de Minas começou os primeiros melhoramentos na Estância, mas tudo muito precário. Foi nesse ano que chegou a Poços de Caldas o Dr. Luiz Pereira Barreto que, como primeira providência, “lembrou a conveniência de se fazer a desapropriação dos terrenos para a construcção da estancia balnear”, conforme destaca o Dr. Mourão, o que só aconteceria dois anos depois, com a autorização para desapropriação de terrenos por utilidade pública, por meio da lei 1.741, de 8 de outubro de 1872, efetivada por um emissário do presidente mineiro, Dr. Joaquim Floriano de Godoy, o “Senador Godoy”.
 
A desapropriação foi antecipada pela cessão, por parte dos Junqueira, de 96 hectares de terra, que resultariam na formação do município. Essa doação foi formalizada no dia 6 de novembro seguinte, o que explica a data de aniversário de Poços de Caldas.
  
Em 22 de outubro de 1886 chega a Poços de Caldas, então uma vila denominada "Freguezia de Nossa Senhora da Saúde das Águas de Caldas", o Imperador Dom Pedro II, para inaugurar o ramal de Caldas da Cia. Mogyana de Estradas de Ferro, empresa fundada também em 1872.
 
O Imperador permaneceu por dois dias na cidade, acompanhado de grande comitiva, como era costume, tendo visitado pontos ainda hoje importantes de Poços de Caldas, como a Cascatinha (abaixo) e a Cascata das Antas.

Por ocasião da visita, teria sido feita uma foto célebre da Família Imperial, que por muitos anos imaginou-se feita numa varanda do Hotel da Empresa ("Empreza Balneária"). O assunto foi desvendado por D. Nilza Botelho Megale, que trabalhou no Museu Imperial de Petrópolis, cidade onde na verdade foi feita a imagem abaixo.

Ainda de acordo com D. Nilza, os jornais da época informaram que a ferrovia já estava em operação desde o dia 10 de outrubro de 1886, e o Imperador só teria vindo inaugurar o trecho no dia 22, visto estar encerrando os trabalhos parlamentares, acompanhando apenas da Imperatriz D. Tereza Cristina, enquanto a Princesa Isabel ficou no Rio de Janeiro, assumindo o governo.
   
Naquela ocasião, Poços de Caldas era uma povoação com cerca de 200 casas, cinco hotéis, uma escola e uma capela, bem diferente do que se via em 1865. Com o desenvolvimento do termalismo, já difundido por conta de sua finalidade terapêutica, destacava-se o Hotel da Empresa, inaugurado em agosto de 1884, localizado nas imediações de onde hoje está a Fonte Luminosa, defronte ao atual Palace Hotel. Havia, ainda, uma passagem coberta sobre o Ribeirão de Poços, ligando o Hotel ao Balneário Pedro Botelho, para conforto dos banhistas.
 
A chegada da ferrovia -embora privada- é a maior contribuição do Império para Poços de Caldas. A presença da Corte na cidade certamente difundiu nacionalmente o nome e as águas milagrosas de Poços de Caldas, num tempo em que automóveis e rodovias faziam parte do imaginário brasileiro.
 
Importante também é entender que o Ramal de Caldas, que tinha como terminal a Estação de Poços de Caldas, serviu para o escoamento da produção de café de toda a região, além de trazer os primeiros traços de modernização e urbanização, bem como de novos horizontes culturais e materiais, trazidos especialmente pela elite paulista, impulsionada pelas belezas da modernidade europeia, como destaca Stelio Marras em “A Propósito de Águas Virtuosas”, ao afirmar que “A instalação do ramal de Caldas da Mogiana respondia assim à modernidade brasileira embutida no café que enchia vagões e trazia em troca gêneros ingleses e franceses”.

Clique nas imagens do Memória de Poços de Caldas para ampliá-las.
  

2 comentários:

Kléber disse...

Coloquem como sugestão de leitura, livros escritos sobre a história da cidade. Há pouco tempo um professor de história escreveu a primeira obra historiográfica sobre a cidade, visto que as anteriores eram memorialistas. A obra é sobre a história econômica, mas há muitas obras que enriqueceria serem divulgadas nesse espaço.

Rubens Caruso Jr. disse...

De acordo!

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Memória de Poços de Caldas é um trabalho cultural, sem fins lucrativos, e democrático. Aqueles que quiserem se comunicar diretamente com o autor podem fazê-lo pelo email rubens.caruso@uol.com.br .