quarta-feira, 9 de março de 2011

TREM DE POÇOS DE CALDAS EM LIVRO

   
Publicado no Jornal de Poços em 6 de março de 2011:
   
"HISTÓRIA DO TREM DE POÇOS VAI VIRAR LIVRO
   
Apaixonado por ferrovia, o jornalista Cláudio Larangeira (foto acima) está pesquisando a história das ferrovias brasileiras para tratar em um livro. A pesquisa já dura dois anos e anteontem, 04, ele esteve visitando a Estação FEPASA e concedeu entrevista exclusiva ao Jornal de Poços falando sobre o trabalho.
    
Larangeira está trabalhando em um projeto aprovado há dois anos pela Lei Rouanet e propõe a criação de um livro sobre as ferrovias brasileiras. O autor pretende fazer um livro para leigos, para os que gostam de locomotivas, para que saibam como começou,  bastante diferente do que se vê hoje em dia, onde os livros trazem informações técnicas, como número das máquinas e outros. Isso sem esquecer as fotografias, que devem ser o principal atrativo do livro, mostrando o que foi preservado ou não.
    
O projeto já tem dois anos. Não foi possível para o jornalista concluir a obra em um ano em função da falta de patrocínio, mas ele tem esperanças que os patrocinadores se unam à causa neste ano. Mas, mesmo sem o patrocínio, Larangeira continua seguindo os trilhos das ferrovias, e ontem foi a vez de Poços de Caldas. Ao lado do amigo e também jornalista Rubens Caruso, ele percorreu a rua Beira Linha, visitou a antiga Estação FEPASA, fotografando e procurando histórias relevantes e emocionantes dos trilhos.
    
Infelizmente a situação da ferrovia de Poços é semelhante a de muitas outras no país, estão abandonadas à sorte e sem nenhum olhar mais cuidadoso.
    
"Como toda ferrovia do Brasil, com pouquíssimas exceções, está tudo abandonado. Essa memória vai embora muito depressa, acompanho muito automobilismo e acho que estão preservando muito mais as coisas da história do automóvel brasileiro, que era uma sucata que vinha da Europa e dos Estados Unidos, e muito menos da ferrovia, que foi a primeira ponta de tecnologia que veio para o Brasil. Foi comprado o que se tinha de melhor e isso se perdeu tudo", relata o jornalista.
    
A história da ferrovia tem 150 anos, contra pouco mais de 70 anos do automóvel, mas mesmo assim o valor dado a esse tipo de memória ainda é baixo. Os trilhos vão ficando perdidos em meio ao mato, casas e até debaixo de muros e asfalto. O local onde antes era motivo de olhares e de fonte de trabalho, hoje está à deriva. Familiares de ferroviários ainda vivem às margens desses trilhos e contam com orgulho parte da história que viveram e que hoje não interessa para os políticos. Agora o que se espera é uma mudança de pensamento, uma atitude consciente e a recuperação dessa história antes que ela se apague, não só na memória, mas também em materialismo.
    
"Temos que tentar recuperar o que tem urgentemente. Tempo sempre vai ter que ter, na pior das hipóteses vamos preservar aqueles três pilares que tem e ficar adorando aquilo. Mas, metade das locomotivas que estão ai, já estão apodrecendo, estão abandonadas, e precisamos preservar o que conseguirmos, para não sumir tudo e ficar como os dinossauros", responde quando questionado se ainda haveria tempo de recuperar essa história.
   
Mas para quê serviria uma ferrovia restaurada, com trens de passageiros? Para fazer turismo, um turismo que dá certo, segundo Larangeira. "Turisticamente isso seria superimportante, principalmente para Poços de Caldas, que tem uma boa estrutura de hotelaria. Tenho certeza que viria gente de outros lugares do mundo para vir ver isso ai" afirma o jornalista. "Um exemplo é Jaguariúna, vem gente dos Estados Unidos para andar de locomotiva", acrescenta, e conta que naquele município o prefeito chegou a demolir a ponte para fazer uma enorme rodovia.
      
Em Poços também já se cogitou fazer uma avenida no espaço demarcado pelos trilhos, mas há tempos não se fala mais nisso". A entrevista foi concedida à jornalista Mariana Negrini.
   
Claudio Larangeira é uma lenda. Veja esse relato: "Às vésperas do lançamento, um jovem fotógrafo free-lancer ficou dias à espreita do (VW) Brasília nas imediações da fábrica localizada na Via Anchieta, em São Paulo. Estava ali porque tinha tido uma encomenda da revista Quatro Rodas, que habitualmente publicava fotos de carros ainda por serem lançados. Surgiu, então, o novo VW e um séquito de carros da marca acompanhando-o.

O fotógrafo aproximou-se para disparar o obturador da câmera e seguranças da fábrica ordenaram, por meio de gestos, que se afastasse. Ele logicamente não atendeu e começou a fazer as fotos. De repente, estampidos secos de arma de fogo. A segurança abriu fogo contra o carro do fotógrafo, que teve várias perfurações na carroceria. Tiroteio em via pública, promovido por seguranças particulares! O caso repercutiu, dada a importância da revista na época, e a VW desculpou-se, encerrando a questão.

O jovem fotógrafo chamava-se Cláudio Larangeira. Devido ao caso, ficou bastante conhecido e não tardou mais que alguns dias para ser contratado pela revista, o
nde permaneceu praticamente 20 anos. Hoje, Cláudio Larangeira é um dos nomes mais respeitados na sua atividade". Por Bob Sharp, publicado no site Best Cars.
   
A iniciativa de Claudio Larangeira é importantíssima. Ferrovias, com suas estações, equipamentos e, principalmente, personagens, constituem um riquíssimo patrimônio histórico e cultural brasileiro, que deve ser preservado.
   
Localmente, pensar em transformar a "beira-linha" em avenida aproxima-se da insensatez. É um projeto que não pode ser levado adiante, visto que sepultaria de vez qualquer ideia de preservar ou reativar o trecho da Mogyana. Coisa relativamente simples se houver principalmente vontade política, visto que a ferrovia funciona normalmente no trecho da quase desconhecida Estação Bauxita, situada na CBA, junto à represa Bortolan, restando reconstruir a linha entre essa estação e a localizada no centro da cidade. Apesar da inexplicada remoção dos cerca de 10 km de trilhos do trecho -sempre cercada de mistérios e invariavelmente desconversada- além de um inconcebível "cercadinho" de muros protagonizado pelo posto Ipiranga situado ao lado da estação, que fechou o leito da ferrovia, resta muito da estrutura necessária para que os trens possam voltar a percorrer o caminho, incluindo algumas pontes metálicas.
   
Esperanças de que um dia Poços de Caldas entre novamente no circuito mundial de trens turísticos há. Depende do serviço e do coração dos que ora estão no poder.
   
Conheça algumas belas imagens de Claudio Larangeira clicando aqui.
   
Clique nas imagens do Memória de Poços de Caldas para ampliá-las.
   

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