segunda-feira, 23 de maio de 2011

O FUNICULAR DE POÇOS DE CALDAS

Poços de Caldas esconde algumas preciosidades, muitas delas perdidas, embora bem à vista de todos. Em pleno centro da cidade está um desses tesouros: basta olhar para o alto, ao lado do prédio da Câmara Municipal, em direção ao Complexo Santa Cruz, para achar o único Funicular de Poços de Caldas.  
   
O acesso ao equipamento se dá por meio de um "labirinto", passando por algumas secretarias municipais instaladas no combalido conjunto, projetado para ser um hotel, cortando por uma cozinha, algumas portas e por fim, chegando-se ao Funicular.
   
A palavra funiculus, em latim, que dá origem a funicular, é um diminutivo de funis, e significa pequena corda ou cabo. Assim, um funicular é um veículo que anda em trilhos, usado para vencer uma encosta, cuja tração é feita por cabos (as "cordas").
   
Talvez o mais famoso funicular do mundo seja o da música "Funiculì, Funiculà" composta em 1880 pela dupla Giuseppe "Peppino" Turco e Luigi Denza, para comemorar a inauguração do "bondinho" de Nápoles (berço do tenor Enrico Caruso), inaugurado naquele ano e destinado a fazer o caminho até o Vesúvio, vulcão que, diferente do de Poços de Caldas, está bem ativo.
   
A investigação do nosso funicular levou à descoberta de pelo menos uma parte de sua história. No conjunto motriz do equipamento, na prática muito semelhante a um elevador, está a etiqueta que identifica o fabricante. Trata-se da Pricoli & Pricoli Ltda., de São paulo, SP. Um pouco mais de pesquisa e foi possível descobrir o texto abaixo, de Estêvão Bertoni, publicado em 2 de novembro de 2009.
   
"Rodolpho Pricoli - Apenas uma chave de fenda e ele arrumava o elevador
   
Rodolpho Pricoli costumava brincar que, com apenas uma chave de fenda, conseguia resolver o problema de um elevador, enquanto muitos técnicos precisavam recorrer a uma caixa completa de ferramentas.
Foi com os irmãos Leonardo e João que ele montou a Pricoli & Pricoli Ltda. assim que o trio chegou à capital na década de 50 vindo de Mococa, no interior de São Paulo. Mecânico de máquinas e motores, ele e os irmãos se especializaram em elevadores. O tempo passou, os irmãos morreram e Rodolpho seguiu sozinho.
Há 30 anos, mudou o nome da empresa. Surgia a Elevadores Ergo Ltda., que fabrica, conserva e reforma elevadores de vários tipos e marcas. Os filhos, que acompanharam o pai desde meninos no trabalho e que com ele aprenderam tudo sobre as máquinas, hoje tocam o negócio da família.
Filho de uma italiana, tinha o sonho não realizado de conhecer a terra da mãe antes de morrer. Segundo a família, Rodolpho herdou o "jeitão calabrês": gritava ao dar broncas nos funcionários, que não deixavam de admirá-lo por causa disso.
Dedicado, mesmo após se afastar do serviço, batia ponto todos os dias na empresa e checava se tudo estava bem. 
Morreu em 2009, aos 83, deixando dois filhos e cinco netos".
   
Voltando à nossa expedição, temos o carro do funicular, todo de alumínio, parado na estação "superior", quase uma garagem elevada do prédio. Internamente, alguns bancos revestidos de fórmica e a possibilidade de uma bela vista da cidade. A porta de acesso está emperrada ou travada, e como é norma para todo objeto histórico, foi respeitada essa condição.
Olhando para baixo, um longo conjunto de trilhos, com quatro linhas, sendo possível observar, ao centro, os cabos de aço que fazem o movimento do carro. No fim do trajeto, à direita, o Edifício Bauxita. Para cima do carro, observa-se o conjunto motriz.
Poderia ser uma atração a mais na cidade? Talvez, ainda mais se considerarmos a importância das escadas rolantes do shopping como atrativo turístico regional -é sério, basta observar o movimento de turistas encantados com a "novidade" aos finais de semana. 
    
Um "elevador panorâmico" como o Funicular teria seus méritos também, não fosse a ocupação desordenada do Complexo Santa Cruz por setores oficiais e a dificuldade de chegar até ele. É deprimente ver a piscina coberta abandonada, as janelas quebradas ou a quadra de esportes perdida no tempo. Mais vexatório ainda é saber que ali estão, entre outras, as secretarias de Planejamento, a de Esportes e a rádio municipal. Preocupa a fala de um engenheiro lotado no local, que afirmou com todas as letras: "se encher a piscina o prédio cai".
   
Na próxima vez que passar pelo centro de Poços de Caldas dê uma olhada para o alto do Morro de Santa Cruz. Observe o Funicular e preste uma homenagem a ele cantarolando a música que você pode ensaiar clicando aqui.
   
Clique nas imagens do Memória de Poços de Caldas para ampliá-las.
   

3 comentários:

Rafael disse...

Minha curiosidade acerca desse ''bondinho''(que agora ja o conheço por nome)sempre foi imensa...gostaria de conhecer mais detalhes,quando foi construido,quando operou,quando foi desativado...e de ver fotos antigas,do tempo em que ele vicejava...

Renato Moretti Uchida disse...

Brilhante post, Rubens. Muito obrigado por compartilhar conosco.

MARCELO TOMAZ disse...

Postagem sensacional, muito belo este trabalho. parabéns!

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