NEM TODOS SÃO IGUAIS.
"Nem todos são iguais" - em toda equipe, seja de jogadores de futebol, músicos de uma filarmônica ou de cantores de um coral, haverá sempre alguém que se destacará por algum ponto forte ou fraco de sua personalidade e/ou comportamento. E na equipe de pilotos da nossa Esquadrilha da Fumaça -fase T-6- não poderia ficar de fora desse postulado.
Por uma questão de ética e mesmo porque eu fazia parte dessa equipe, gostaria de apontar somente os pontos fortes de alguns companheiros. Evidentemente não desejo citar nem defeitos nem virtudes, mesmo porque a constante que reinava em nossa equipe, quanto a isso, sempre foi a de que ninguém é melhor do que ninguém (exceto o Braga).
Mas, realmente o que desejo é tentar passar aos senhores leitores uma idéia de um desses pontos fortes de um companheiro nosso que sempre procurava se apresentar na Esquadrilha da melhor maneira possível: bom piloto, inteligente, bota sempre brilhando, macacão sempre limpo e vincado e capacete lustrado.
Era o famoso certinho com olhar e andar de "Dandy". Não atrasava para o expediente, não faltava aos treinos diários e estava sempre bem penteado (os poucos cabelos que tinha). E se por um acaso, recebia um elogio, se enchia, se envaidecia e se preparava para agradecer ao estilo de um diplomata com "pompa e circunstância", pigarreando antes, "comme il fault".
Gostaria de afirmar que não víamos naquele companheiro nada de errado, mas sim, e nos chamava a atenção, aqueles pontos fortes do seu comportamento, e que respeitávamos. Realmente ser elogiado era o que mais lhe agradava (mas quem não gosta?).
Particularmente quando do término de uma demonstração apresentam-se o prefeito da cidade, o presidente do aeroclube local, enfim qualquer pessoal para aqueles elogios normais.
Até que um dia, em Poços de Caldas (MG), onde a altitude e um ar rarefeito exigem o limite máximo da habilidade do piloto e operacionalidade do T-6 na realização das manobras, aconteceu...
Era aniversário da cidade. Repleta de turistas e seus citadinos regozijavam-se com as evoluções da Fumaça em ousadas passagens baixas e acrobacias que aceleram a adrenalina no sangue daqueles assistentes. Ocorre que, nesta demonstração o Braga nosso comandante estava incapacitado de ir a Poços e escalava o líder reserva major Décio (hoje coronel da reserva) que procurou honrar a imagem da Esquadrilha e brilhar junto aos seus alas como era de se esperar do nosso "Dandy".
Demonstração encerrada. Ida para o hotel. Banho tomado. Melhor uniforme vincado e sapato brilhando, se prepara para encontrar-se com o prefeito para o jantar de comemoração. Porém, antes de chegar ao hobby do hotel, ao descer as escadas, eis que no meio de sua descida é interpelado por uma senhora, possivelmente da alta sociedade de Poços, bem vestida, cabelos grisalhos com uma aparência boa e com um pescoço serpenteado de jóias.
O major Décio, vendo que ela mantinha um olhar fixo nele, pergunta: "Em que posso servi-la?" (com pose e educação esmerada que conhecemos). E aquela senhora, do alto dos seus 65 anos aproximadamente, respondeu: "O senhor é o líder da esquadrilha?" - "Sim", respondeu-lhe esperando o elogio normal de outras demonstrações. Mas, qual não foi a sua surpresa!! A doce senhora apontou-lhe o dedo em riste e disse-lhe: "O senhor é maluco, irresponsável, doido, assassino, que vai matar muita gente. Cai fora daqui imediatamente, seu monstro". Virando-lhe as costas, desceu as escadas e desapareceu.
O Décio atônito, sem fala e sem forças até para andar, sentou-se em um dos degraus e segurando a cabeça baixa, pensou alto: "Nem todos são iguais".
por Ten.-Cel-Av.RR. Wylton Silva, ex-integrante da Esquadrilha da Fumaça.
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1 comentários:
Muito bom o post, faltou só a letra A no título.
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