domingo, 11 de setembro de 2011

CALDENSE X BRAGANTINO: 1938

O jornal "Cidade de Bragança", de Bragança Paulista, reproduziu um reportagem histórica, de 8 de setembro de 1938. Nicolino dos Santos, redator e diretor do Jornal Cidade de Bragança, na época, foi convidado pela diretoria do C.A. Bragantino para acompanhar a delegação a Poços de Caldas. Acompanhe:
  
“Nicolino dos Santos, representou este jornal, Cidade de Bragança, junto à caravana do Atlético a Poços de Caldas e descreveu em rápidas linhas o que foi a visita dos Bragantinos a Poços de Caldas, a risonha cidade de Minas. O repórter, como muita gente, só conhecia Poços de Caldas através dos jornais e das fotografias. Quem pode não deve deixar de conhecer essa maravilha. Poços é uma cidade dentro de um jardim. É como disse o Júlio Silveira, um brilhante engastado em Minas. É uma viagem longa, longa mas encantadora, duzentos e tantos quilômetros vencidos em sete horas, mais ou menos.
  
Os automóveis em números de dez a doze, partindo em horários diferentes, riscaram as estradas sem o menor incidente, desfraldando a flâmula do valioso quadro dos calções negros. O repórter instalou-se num Ford Typo 29 em companhia de Ruge o guardião, de Wilson Magrini, reserva e de Daniel Bovi e Marcelinho Pinto Teixeira.
 
Deixamos Bragança às 14h30 da tarde. Às 16h mais ou menos alcançamos Itatiba e devorando estradas com a perícia e prudência do motorista Dante, fomos deixando para traz várias cidades: Itatiba, Valinhos, Campinas, Mogi Mirim, Mogi Guaçu, São João da Boa Vista, Águas da Prata e finalmente Poços de Caldas onde chegamos às 22h da noite, isso porque em todas as cidades percorridas fazíamos um descanso de quinze minutos a espera dos carros retardatários. Alojada a turma da pelota no Hotel Guarany, os caravanistas se distribuíram pelos vários hotéis da cidade. O repórter em companhia de Marcelo Stefani acomodou-se no Hotel Lealdade, onde já se encontravam Assis Leme, Aguiar Leme, Wilson, Ismael Leme e Miguel Longo. Feita a necessária “toilette” o Marcelo saiu em busca dos “craques” que naturalmente se achavam “dispersos” e fez com que todos procurassem as respectivas camas, pois o jogo no dia seguinte, não era lá pra brincadeiras e toda a “macacada” dormiu santamente.
 
Domingo durante o dia foi dedicado às visitas. Não ficou um só ponto da cidade que não fosse visto pelos bragantinos. Tudo foi observado minuciosamente. O cassino, as fontes luminosas, as termas, a Fonte dos Amores, o Country Clube, o Balneário Quisisana, a represa e o aeroporto. Cidade pequena, plano, Poços de Caldas é quase toda asfaltada e pelas suas ruas, muito limpas e brilhantes, circulam inúmeras charretes de aluguel que fazem as delícias dos visitantes em passeios pela cidade. Na Fonte dos Amores, belo e pitoresco recanto, os bragantinos se entregaram ao divertimento das fotografias humorísticas. O repórter conseguiu obter vários retratos impagáveis.
  
O Jogo
Às 16h precisamente, os jogadores em automóveis rumaram para o Estádio “Charles Procópio” onde os aguardava uma assistência numerosa, sendo todos recebidos com uma prolongada salva de palmas. Poucos momentos antes do início da partida, Marcelo Stefani, capitão do quadro do “Atlético” fez a entrega de uma riquíssima flâmula a Nevercinio, capitão do quadro Caldense. Flâmula essa que traduzia o abraço e a amizade dos jogadores bragantinos aos seus colegas mineiros. Obedecendo a chamado do juiz Caetano Lambert, os quadros se alinharam em campo na seguinte formação. Atlético Bragantino: Ruge, Maneco e João Toledo. Pepe, Américo e Marcelo Stefani. Guan Vilchez, Figueiredo, Biba Arruda, Jorginho e Oswal-dinho Arruda. Caldense: Bruno, Maran e Mário. Jayme, Hélio e Tatão. Lolo, Nevercinio, Fubá, Vito e Didio.
  
Às 16h20 começa a partida. Os caldenses atacam com vontade, investindo seguidamente contra a meta defendida por Ruge ou porque estranhe o campo que de fato é pequeno ou devido ao nervo dos jogadores, o nosso quadro joga pessimamente. Não há harmonia. A defesa e a linha jogam completamente afastados. Os caldenses, ligeiros, combinados, cerram o ataque. Não haviam decorridos ainda dez minutos, quando Fubá, recebendo, visivelmente ofesaide (offside) a pelota dos pés de Lolo, abre a contagem para o seu quadro. Alguns protestos, mas o juiz mantém a decisão. Os caldenses continuam a atacar fortemente, obrigando a Ruge praticar belíssimas defesas. O quadro bragantino não anda. Joga desarticuladamente. Cinco minutos depois, Fubá assinala outro ponto. A assistência delira. Com esse feito, parece aumentar ainda mais o desânimo do quadro bragantino. As pontas, Lolo e Didio jogam completamente livres. Da defesa bragantina só Américo desenvolve um jogo firme, bonito, mas atrasado. Guan e Oswaldinho nada fazem. Assim continuam Pepe e Jorginho. Aos vinte e cinco minutos de jogo Vitto aumenta para três a contagem. Mais algumas jogadas e termina o primeiro tempo com o resultado seguinte: A.A. Caldense 3 x 0 C.A. Bragantino.
  
No segundo tempo o quadro do Atlético sofreu ligeira modificação: Jorginho foi substituído por Neco e Guan passou para a meia esquerda. Reiniciando o embate o esquadrão bragantino, com surpresa geral, mostra fortíssima reação, atacando decididamente o campo adversário. Assim é que aos cinco minutos de jogo, Figueiredo, com um belo e fortíssimo tiro, vasa o retângulo caldense. Os bragantinos reanimam-se. O jogo equilibra-se. Três minutos depois Neco assinala o segundo ponto, também conquistado com belíssimo estilo. A torcida bragantina freme em entusiasmo. Os jogadores, idem. A peleja se desenvolve no meio do campo. O Atlético dá várias investidas, mas sem resultado. Falta de sorte. Nada menos de quatro bolas foram chutadas na trave contrária: pelotaços de Neco, Oswaldinho e Figueiredo. Toledo joga como gente grande. Todos se esforçam, com denodo, na esperança de empatar a peleja. Mas a sorte é ingrata. Numa investida dos caldenses, Vito marca o quarto e último tento para o seu clube. O embate prossegue animadíssimo. O quadro mineiro demonstra visível esmorecimento, diante da decidida reação dos bragantinos. Jogassem os nossos assim, no primeiro tempo e a vitória não ficaria, certamente, em Poços de Caldas. Mais alguns lances e o juiz dá por terminado o encontro com resultado seguinte: A.A. Caldense 4 x 2 C.A. Bragantino.
   
Notas da Reportagem
O jogo abrilhantado por uma excelente corporação musical foi irradiado pela P.R.H. 5, Rádio Cultura Poços de Caldas. Reinou, durante o embate, a maior disciplina, nada se verificando que viesse empanar o brilho da magnífica tarde esportiva.
A torcida caldense causou a melhor das impressões. Muito educada e entusiasmada. O juiz da partida, sr. Caetano Lambert, teve uma atuação assim, assim. O sr. Mario de Oliveira Chandó, um dos ótimos elementos do grêmio caldense e funcionário das Termas, sempre se mostrou gentil para com a caravana bragantina, acompanhando-a em todas as visitas e fortalecendo os menos detalhes.
Muito atenciosos e solícitos, se mostraram também os srs. Dr. Wilson Medeiros, Marcello Stefani, dr. Aguiar Leme, Dante Bovi, Marcelinho Pinto Teixeira, todos da caravana bragantina.
De volta, logo adiante de Valinhos, o Ford, tipo 29, foi bamba: tendo sido queimada uma ponte, obstruindo a estrada, o Fordinho varou um areião colossal, conseguindo alcançar, novamente, a estrada de rodagem, com grande alegria do Dante Bovi, o piloto, e dos seus companheiros de viagem. Esta redação se confessa grata, ao Clube Atlético Bragantino, pelo convite e pelas atenções dispensadas ao seu representante, quer durante a viagem, quer em Poços de Caldas.
  
Bolo Esportivo
O “bolo esportivo”, organizado num dos bares da cidade e que atingiu a quantia de 11$500, não teve vencedor. Diante disso, os seus organizadores deixaram nesta redação a importância acima, destinada ao Asylo de Mendicidade.
 
Os Retratos Humorísticos
As impagáveis fotografias, tiradas em Poços de Caldas, encontram-se expostas em “nossa casa”, de Pedro Montanari, situada à Rua Dr. Cândido Rodrigues".
   

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