terça-feira, 6 de novembro de 2012

POÇOS, 140, PRECISA SE REDESCOBRIR


Seis de novembro de 2012. Poços de Caldas, nossa agradável estância sul-mineira, completa seus 140 anos, belíssima mas em plena crise da meia idade.

Encerra mais uma vez um ciclo político dos ditos coronéis -para mim não chegam a essa patente nos moldes que entendo o "coronelismo" no Brasil -são talvez capitães ou, se muito, majores. Assim, com a eleição de um prefeito de origem humilde e que virou doutor, entra de novo numa fase de esperança de mudanças, de inovação, mas principalmente da não repetição das velhas regras de sempre do jogo político brasileiro. Eloísio Lourenço saiu do zero para se tornar a principal figura da política local, e tem grandes desafios pela frente -desafios históricos, como não conviria melhor tratar no Memória de Poços de Caldas.
  
Poços precisa achar seu caminho como cidade, deixando de dar cabeçadas conforme a conveniência do momento. Mesmo atuando no setor industrial, não canso de dizer que desde sempre foi o turismo a "cara" da cidade, e aí estão as montanhas, as fontes ou os palácios a confirmar esse pensamento.

Foi-se, há décadas, o conceito de grandes empresas gerando milhares de empregos como a panaceia de todas as crises, todas as dificuldades, como se o trabalho de operário fabril bastasse para girar a economia. Empresas vieram e partiram. O Distrito Industrial abriu os braços para as empresas locais que querem crescer, mas não recebeu as prometidas Unicoba ou Lafarge, por exemplo. E nem vai receber, por um simples motivo: o que atrai uma empresa é o benefício concedido pelos governos estaduais na guerra fiscal: quem cobra menos ICMS leva a fábrica. E se o governo mineiro oferece, concede o chamado "incentivo", o próximo passo é a logística: quem é o cliente dessa indústria? Onde está localizado? E aí Poços de Caldas é uma espécie de refém de São Paulo, que entrega na porta da cidade uma rodovia de ótima qualidade, mas se a empresa atende o mercado nacional, seu destino é outro, de preferência às margens de um BR norte-sul.
  
Outra conveniência de momento é dizer que a cidade tem futuro como "universitária". Não é e está longe de ser. A universidade só interessa quando tem forte foco na pesquisa e reverte esse conhecimento para a cidade. Resta, pois, receber uma massa (ainda pequena) de estudantes, invariavelmente "duros" como muitos de nós já fomos, morando em precárias repúblicas e aproveitando todas as oportunidades para deixarem Poços e voltarem às cidades de origem -famílias, amigos e raízes estão lá, e não aqui.

O que fica, então? O de sempre, e já disse acima: Poços sempre foi uma estância turística, e deve continuar sendo. É nesse setor que estarão os empregos, as oportunidades, os bem vindos recursos externos. Não por outro motivo cidades brotam em pleno deserto pensando no fim do petróleo, mostrando ao mundo grandes edifícios, mega-hotéis e atrações impensáveis como uma pista de esqui... de gelo!
  

Várias foram as fases históricas e ciclos econômicos, e é notório que os mais bem sucedidos foram os ligados ao termalismo, depois ao jogo, depois às luas-de-mel. É hora de Poços reinventar-se como estância turística, e cabe exclusivamente à iniciativa privada investir na melhoria de sua deficiente rede hoteleira (quais hotéis oferecem um bom sistema de aquecimento para as noites de inverno?), indo em busca dos muitos recursos federais para incrementar seus empreendimentos, atraindo mais visitantes. Outra prática que já deveria ter sido abolida há muito tempo é a "opção" quase obrigatória da pensão completa, o que limita o crescimento da gastronomia local.
  
À prefeitura cabe fazer seu dever de casa mais elementar: primeiro precisa ter um projeto, um planejamento turístico. Meia-dúzia de "secretários" de turismo em menos de quatro anos demonstram a falta de foco no tema e, assim, pouco se projeta além de "variações sobre o mesmo tema", como os diversos formatos para a Festa Uai. Cabe ainda ao Executivo zelar pela integridade do acervo turístico e agir imediatamente para que qualquer problema seja resolvido na hora, como não fez no caso da depredação do guarda-corpo no Cristo.
   
Por fim, tal como a iniciativa privada, é preciso ter uma atuação incansável no monitoramento e captação de recursos em todos os PACs que o governo federal ofereça -só para não deixar passar em branco, desde fevereiro venho lutando para que Poços pelo menos apresente o projeto do Trem Turístico, para o qual o Ministério do Turismo oferece verbas, e cidades que foram ágeis já estão com suas locomotivas acesas. Poços precisa, reitero, se reinventar, e o mais interessante disso é que essa atitude está atrelada justamente ao que ela sempre teve de melhor: o turismo.

Sopremos, pois, as 140 velinhas, mas tendo em mente, na hora de "fazer um pedido": que caminhos vamos  seguir para chegarmos renovados às 150?

Parabéns, Poços de Caldas!

2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pelo seu texto Caruso, direto e verdadeiro! é hora de renovar!

Unknown disse...

Parabéns pelo belíssimo texto Caruso.
Nossa cidade tem potencial, só precisa de uma mudança e agora é a hora!

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Memória de Poços de Caldas é um trabalho cultural, sem fins lucrativos, e democrático. Aqueles que quiserem se comunicar diretamente com o autor podem fazê-lo pelo email rubens.caruso@uol.com.br .