sexta-feira, 29 de abril de 2016

CASSINOS: O FIM DA ERA DE OURO

Há 70 anos, em 30 de abril de 1946, o presidente Eurico Gaspar Dutra decretava o fim da prática ou exploração de jogos de azar em todo o território nacional.

Os motivos elencados no Decreto-Lei 9215, daquela data, foram muitos:
"a repressão aos jogos de azar é um imperativo da consciência universal;
a legislação penal de todos os povos cultos contém preceitos tendentes a êsse fim;
a tradição moral jurídica e religiosa do povo brasileiro é contrária à prática e à exploração de jogos de azar;
das exceções abertas à lei geral, decorreram abusos nocivos à moral e aos bons costumes;
as licenças e concessões para a prática e exploração de jogos de azar na Capital Federal e nas estâncias hidroterápicas, balneárias ou climáticas foram dadas a título precário, podendo ser cassadas a qualquer momento".

Conta-se que a motivação mais importante teria sido a pressão da primeira-dama Carmela Dutra, a "Dona Santinha", que teria abraçado a causa da Igreja Católica contra o ambiente viciado e libidinoso dos cassinos.

A história dos cassinos em Poços de Caldas tem início no século 19, quando a cidade era ainda uma pequena vila. Registros indicam que, por volta de 1890, os hotéis de então, já recebendo turistas em busca dos tratamentos terapêuticos proporcionados pelos banhos de água sulfurosa, ofereciam aos hóspedes alguns jogos, como forma de lazer durante as estações de cura a que se submetiam, em geral longas.

Considerada por muitos a Las Vegas brasileira, o jogo tornou-se um grande negócio para a cidade, empregando muita mão-de-obra e atraindo jogadores de todo o País, resultando por exemplo na existência de voos regulares para a cidade, partindo das maiores capitais brasileiras (então São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) após a inauguração do aeroporto em 1938. Por suas características, Poços de Caldas, guardadas as proporções, estaria mais para Monte Carlo do que Las Vegas. Mas esse é um ponto de vista pessoal do autor.

Como em toda cidade que abriga casas de jogo, essas passaram a movimentar a economia, de onde vinham salários e gorjetas, muitas vezes na forma das próprias fichas de jogo, que circulavam como moeda regular na cidade. Especialmente nos meses de férias, as temporadas de verão e inverno eram épocas de festa para o comércio local. Ainda hoje é assim, mesmo sem os cassinos.

Foram muitos os estabelecimentos dedicados ao jogo em Poços de Caldas. Nomes como Rádium, Éden, Bridge Club, Caldense, Cassino "Velho", Ideal Cassino, Nacional, Social Club, Salão Biju ou Ideal Cassino estão entre os mais lembrados, apesar da carência de fontes para pesquisas mais profundas.

Com o fim do jogo, Poços de Caldas mergulhou num período de considerável decadência, voltando a se redescobrir como destino quase obrigatório para casais em lua de mel.

Curiosamente, apesar do fim do jogo ter sido decretado em 1946, seis anos depois um Delegado de Polícia "linha dura" -o Dr. Helvécio Horta Arantes- foi designado para encerrar, de vez, as atividades de pelo menos três cassinos que insistiam em continuar ativos em Poços de Caldas. Clique no link ao final para conhecer os detalhes dessa interessante história.

Link para o Decreto de Dutra -clique aqui

Link para a curiosa missão do Dr. Helvécio Arantes -clique aqui

Clique nas imagens do Memória de Poços de Caldas para ampliá-las.
"Povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la".

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