sexta-feira, 26 de novembro de 2010

MOGYANA, 221


Memória de Poços de Caldas trouxe da França um raríssimo exemplar da revista La Vie du Rail, publicada em 13 de dezembro de 1953. Trata-se de uma publicação especializada no tema ferroviário,  e essa edição traz como reportagem de capa: "Au Brésil - Le Réseau Mogiana" ou "No Brasil - A Rede Mogiana". Em quatro páginas, M. Dehinzelin conta sua viagem pelo Brasil, "um país com 52 milhões de habitantes, mais que o triplo dos 17 milhões de pessoas de 1900, cuja malha ferroviária, apesar da extensão do país, é menor que a da França".
 
Diz ainda a reportagem que "a Mogiana é uma das mais antigas ferrovias do Brasl, fundada em dezembro de 1872, contando com 2.230 km de linhas servindo o leste e o nordeste do estado de São Paulo e a 'ponta leste' de Minas Gerais", informações passadas -após uma calorosa recepção- ao repórter pelo Superintendente Augusto César de Andrade.
  
"Na direção leste", destaca o texto, "a região montanhosa, a Mogiana atende as estações termais, com suas fontes quentes ou frias, tais como Águas da Prata, Lindóia e, sobretudo, Poços de Caldas, que estão entre as mais famosas e bem administradas do Brasil".
   
Entre outras curiosidades,a  reportagem afirma que "a Mogiana tem 200 locomotivas em operação, sendo 96 norte-americanas, 77 inglesas, seis alemãs e uma belga. Por conta do carvão escasso e de baixa qualidade no Brasil (muito enxôfre), a Mogiana formou plantações de eucalipto para abastecer de combustível suas máquinas a vapor. Entre os 290 vagões, quatro são Pullman, 12 do tipo leito e 12 carros-restaurante, distribuídos entre 1a. e 2.a Classes".
 
"A região atendida pela Mogiana é essencialmente agrícola, sem grandes cidades, mas com aglomerações chamadas 'fazendas', que cultivam café, algodão, arroz, feijão, milho e cana de açúcar, num clima tropical temperado em altitudes que variam de 400 m a 1.200 m", continua a reportagem.
    
Talvez  o mais interessante da aquisição dessa revista veio da avaliação detalhada da foto da capa (acima), provavelmente feita na "Garganta do Inferno", o trecho logo após a estação de Águas da Prata, que antecede a subida da Serra para Poços de Caldas: trata-se da locomotiva número 221, a mesma que aparece na foto abaixo cruzando o "Viaducto", cujos Pilares remanescentes são objeto, por parte deste autor, de insistentes pedidos de preservação, tombamento e transformação em logradouro turístico. Os Pilares ficam próximos da PUC.

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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

PANORÂMICA - ALTO DA SERRA


Memória de Poços de Caldas fez a montagem acima, unindo uma sequência de imagens provavelmente do final dos anos 1950, de autoria de Tibor Jablonsky. As fotos são do acervo do IBGE e integram o Arquivo Fotográfico Ilustrativo dos Trabalhos Geográficos de Campo.
 
Saiba mais: "Entre o final da década de 40 e início da década de 50 do século passado, o IBGE contratou os primeiros fotógrafos profissionais, três húngaros recém chegados ao Brasil – Tibor Jablonsky, Tomas Somlo e Istivan Faludi –, que passaram a integrar os grupos de pesquisa.
 
Entre tantos fotógrafos contratados pelo IBGE, a escolha de Tibor Jablonsky deveu-se ao fato de sua produção fotográfica reunir imagens da realidade física e social do país em sua amplitude espacial, incluindo o cotidiano da vida rural e urbana. Natural de Sarospatak, Hungria, chegou ao Brasil procedente de Copenhague, desembarcando no Porto do Rio de Janeiro, como turista, em 27 de maio de 1948.
 
Era Diretor de Filmes da Cia. Cinema da Hungria e foi contratado como técnico de cinema pelo Conselho Nacional de Geografia, órgão do IBGE. Produziu cerca de 7.000 registros imagéticos, num total de 20.000 que constituem o Arquivo Fotográfico Ilustrativo dos Trabalhos Geográficos de Campo" (A fotografia como fonte de informação e a memória do trabalho na Região Norte, 1949-1968 - Vera Lucia Cortes Abrantes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/Programa de Pós-Graduação em Memória Social).
 
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terça-feira, 23 de novembro de 2010

DESARMAMENTO DO CORONEL

As coisas não andavam exatamente tranquilas há 110 anos em Poços de Caldas, o que levou à edição, em 16 de dezembro de 1900, de importante decreto. Confira a informação, retirada do livro "Poços de Caldas", de Homero Benedicto Ottoni: 

"EDITAL
o Barão de Campo Místico, Delegado de Polícia em exercício nesta vila de Poços de Caldas:
Faço saber aos que o presente virem que é expressamente proibido andarem armados dentro desta Vila com armas ofensivas e aquêles que assim fôrem encontrados serão presos, processados e as armas apreendidas.
À noite serão revistados aquêles que se tornarem suspeitos. Outrossim, ficam expressamente proibidos os jogos de azar principalmente nas vendas que deverão fechar suas portas às 10 horas da noite e conservarem-se em silêncio para não pérturbarem o sossêgo público."
 
Saiba mais: Barão de Campo Místico é o título concedido ao empresário, político e chefe de polícia Antônio Teixeira Diniz (ao lado) pelo imperador D. Pedro II, em 1889. Nhonhô, como era conhecido o Barão, foi pioneiro da atividade turística na região, considerado o primeiro empreendedor no setor por conta do hotel construído em Poços de Caldas. Foi o Barão também que trouxe a primeira roleta para a região, dando início a longa era dos cassinos sulmineiros.
 
"Nhonhô" nasceu em Campo Místico (hoje Bueno Brandão), também no sul de Minas, filho de Antonio Joaquim Teixeira e Luiza Maria do Nascimento. Era bisneto do fundador de Caldas, Antonio Gomes de Freitas, proprietário da fazenda dos Bugres.
 
  
Sobre o Coronel, escreveu D. Nilza Megale em seu Memórias Históricas de Poços de Caldas:
  
"O Imperador e o Coronel
  
O Coronel Antônio Teixeira Diniz, figura proeminente na história de Poços de Caldas, distinguiu-se principalmente pelo seu tipo autêntico e original. Homem simples e rude, de pouca cultura, mas prestativo e observador, sabia enfeitar suas estórias com um toque pitoresco e pessoal. Odiado por muitos e admirado por outros, possuía grande coragem e notável espírito de iniciativa, que demonstrou cabalmente por ocasião da visita de D. Pedro II àquela estância.
  
Contam que quando o Imperador ali chegou, o trole que transportava Sua Majestade atolou num terrível lamaçal. Tentaram todos os recursos para puxar a viatura, porém os animais não conseguiam arredá-la do lugar. O Coronel Diniz não teve dúvidas, tirou o paletó de cerimônia que usava, arregaçou as mangas da camisa e chamando quatro possantes negros escravos, enfrentou a chuva que caía sem cessar, entrou na lama até os ombros e junto com seus companheiros desatolou o carro que conduzia o Soberano e sua esposa (alguns historiadores afirmam ter este fato acontecido no dia do embarque do Imperador ara Ribeirão Preto e não na sua chegada).
  
Comovido com o gesto nobre e decidido do Coronel Diniz, o Imperador desejou conhecer aquele homem alto e forte e fez questão de agradecer-lhe a amável iniciativa. Dizem que o Nhonhô (como era
apelidado) respondeu-lhe com a maior simplicidade: "Senhor Imperador, para mim foi melhor, porque fiquei livre desta rouparia que estava me azucrinando". O certo é que ele conquistou a simpatia de S. Majestade e tornou-se acompanhante favorito do monarca durante a sua breve estadia em Poços de Caldas.
  
Outro caso famoso de Antônio Teixeira Diniz, narrado pelo historiador Dr. Mário Mourão: após inesquecível almoço oferecido à comitiva imperial pelos concessionários da EmpresaTermal, nosso herói deliciou a assistência relatando uma sensacional caçada que fizera nas cabeceiras do Rio Pardo, quando de uma só vez matara perigosa onça pintada, o terror da vizinhança e o veado galheiro mais cobiçado da região. Sua narrativa, vibrante e ornamentada, de velho caçador, prendeu a atenção dos ouvintes, que sentiram emocionados os dramáticos lances da aventura. Em dado momento o Nhonhô, entusiasmado, esquecendo o protocolo e a etiqueta, bateu nas pernas do Imperador, dizendo: "Pois é, Coronel, este foi o dia mais feliz de minha vida!". O bondoso Monarca, sorrindo respondeu: "Obrigado, Coronel Diniz, o senhor é meu xará. Eu sou mesmo coronel de vários exércitos do mundo, mas o senhor foi a primeira pessoa que teve a delicadeza de recordar esta distinção, que me enche de orgulho.
  
Impressionado com a autenticidade do simpático mineiro, ou para agradecer as atenções recebidas, D. Pedro II, além de conceder-lhe o título de Barão de Campo Místico, enviou-lhe uma rica buzina de caça, que pertencera ao seu primo, o rei Luiz II da Baviera.
  
Alguns anos antes de seu falecimento, ocorrido em 1918, o Barão começou a sofrer das faculdades mentais. Os antigos moradores da cidade lembravam-se dele vagando pelos montes, ao romper da aurora, tocando tristemente a buzina de prata que recebera de presente do Imperador".
  

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

MEMÓRIA DE POÇOS DE CALDAS NA ESCOLA

Fundada em 16 de fevereiro de 1922, a  Escola Mista ocupava um prédio na então Rua Paraná, hoje Rua Assis Figueiredo, visando o ensino do curso Primário. Em 1934, a denominação muda para Colégio Sete  de Setembro e, em 1967, instala-se na rua Paraíba, onde permaneceu até 1981, já incluindo os cursos pré-escolar e 1o. grau. Nesse ano, a escola é transformada em entidade beneficente sem fins lucrativos, vinculada à Maçonaria, mudando para o atual endereço, na rua Corumbá.
 
Memória de Poços de Caldas esteve hoje no Colégio Sete de Setembro, a convite da Prof. Cássia, para uma conversa com alunos do ensino fundamental. Entre os temas discutidos, claro, a história da cidade, particularmente no período final do segundo Império, que coincide com a chegada da ferrovia, além da importância da internet como ferramenta de estudos e preservação hisórica, os cuidados com a pesquisa e a qualidade da informação.
 
No hall da escola foi montada uma mini-exposição, com algumas imagens fornecidas pelo Memória de Poços de Poços de Caldas.
  
É essa a proposta: reunir em espaço virtual o acervo memorial disperso, possibilitando a socialização desse valioso conteúdo, com livre acesso aos interessados no tema, em especial os estudantes.
 
À Prof. Cássia e aos Alunos, agradecimentos e parabéns pela iniciativa.
  

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

"AÉRO-CLUB DE POÇOS DE CALDAS EM 1945"

Importante material histórico enviado pelo amigo Freddy da Silva. Trata-se de uma revista especial, datada de 24 de novembro de 1945, publicada pelo Aeroclube da cidade. Riquíssima em informações e publicidade, a revista é um retrato de Poços de Caldas do final da Segunda Guerra Mundial, no período que antecede o fim do jogo no Brasil, em abril de 1946.

Alguns pontos também interessantes: os telefones com apenas três digitos; a chegada dos aviões denominados "Paulo Prado" e "Medeiros e Albuquerque", as homenagens a Santos Dumont ou a temporada 1946 do Casino Gibimba, que não aconteceu.
  
Clique nas imagens do Memória de Poços de Caldas para ampliá-las.
 


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

POÇOS DE CALDAS NO FIM DO IMPÉRIO

Dom Pedro II é uma das figuras mais interessantes da história do Brasil. O Imperador subiu ao trono com apenas 15 anos de idade, em 1840, na sucessão de seu pai, Pedro I, após este abdicar (em 1831) para retomar a Coroa em Portugal.
 
Foi um grande incentivador da cultura. É dele a frase “Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro”. Quem teve chance de conhecer, por exemplo, parte do espetacular acervo fotográfico do Imperador, sabe de seu apreço pela multiplicação do conhecimento. Impossível também falar de Pedro II sem destacar sua defesa pelo fim da escravidão.
 
D. Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, brasileiro, carioca, reinou até a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, deposto pouco mais de um ano depois de ver assinada -por sua filha e herdeira, a Princesa Isabel- a Lei Áurea, que extinguiu o regime escravo no País.
 
É justamente no final do Segundo Império que a história de Poços de Caldas, como cidade, tem início. O livro “Synthese Historica e Crenologica”, obra obrigatória do Dr. Mario Mourão, publicada em 1933, relata que o Coronel Agostinho Junqueira ouvira de seus antepassados que os Poços de Caldas foram descobertos por caçadores, que observaram a presença de grande quantidade de animais nos “bebedouros” que afloravam na região, já em 1815, quando o avô do Coronel fundou a Fazenda Barreiro.
 
Somente meio século depois, em 1865, o governo de Ouro Preto (antes Vila Rica, denominada, em 1823, por decreto, “Cidade Imperial”, capital da província de Minas Gerais) mandou à região um engenheiro, para confeccionar uma planta da cidade e avaliar o investimento necessário para construir um balneário. Esse mapa (abaixo) aponta que não havia uma única casa na região.

Em 1870 o governo de Minas começou os primeiros melhoramentos na Estância, mas tudo muito precário. Foi nesse ano que chegou a Poços de Caldas o Dr. Luiz Pereira Barreto que, como primeira providência, “lembrou a conveniência de se fazer a desapropriação dos terrenos para a construcção da estancia balnear”, conforme destaca o Dr. Mourão, o que só aconteceria dois anos depois, com a autorização para desapropriação de terrenos por utilidade pública, por meio da lei 1.741, de 8 de outubro de 1872, efetivada por um emissário do presidente mineiro, Dr. Joaquim Floriano de Godoy, o “Senador Godoy”.
 
A desapropriação foi antecipada pela cessão, por parte dos Junqueira, de 96 hectares de terra, que resultariam na formação do município. Essa doação foi formalizada no dia 6 de novembro seguinte, o que explica a data de aniversário de Poços de Caldas.
  
Em 22 de outubro de 1886 chega a Poços de Caldas, então uma vila denominada "Freguezia de Nossa Senhora da Saúde das Águas de Caldas", o Imperador Dom Pedro II, para inaugurar o ramal de Caldas da Cia. Mogyana de Estradas de Ferro, empresa fundada também em 1872.
 
O Imperador permaneceu por dois dias na cidade, acompanhado de grande comitiva, como era costume, tendo visitado pontos ainda hoje importantes de Poços de Caldas, como a Cascatinha (abaixo) e a Cascata das Antas.

Por ocasião da visita, teria sido feita uma foto célebre da Família Imperial, que por muitos anos imaginou-se feita numa varanda do Hotel da Empresa ("Empreza Balneária"). O assunto foi desvendado por D. Nilza Botelho Megale, que trabalhou no Museu Imperial de Petrópolis, cidade onde na verdade foi feita a imagem abaixo.

Ainda de acordo com D. Nilza, os jornais da época informaram que a ferrovia já estava em operação desde o dia 10 de outrubro de 1886, e o Imperador só teria vindo inaugurar o trecho no dia 22, visto estar encerrando os trabalhos parlamentares, acompanhando apenas da Imperatriz D. Tereza Cristina, enquanto a Princesa Isabel ficou no Rio de Janeiro, assumindo o governo.
   
Naquela ocasião, Poços de Caldas era uma povoação com cerca de 200 casas, cinco hotéis, uma escola e uma capela, bem diferente do que se via em 1865. Com o desenvolvimento do termalismo, já difundido por conta de sua finalidade terapêutica, destacava-se o Hotel da Empresa, inaugurado em agosto de 1884, localizado nas imediações de onde hoje está a Fonte Luminosa, defronte ao atual Palace Hotel. Havia, ainda, uma passagem coberta sobre o Ribeirão de Poços, ligando o Hotel ao Balneário Pedro Botelho, para conforto dos banhistas.
 
A chegada da ferrovia -embora privada- é a maior contribuição do Império para Poços de Caldas. A presença da Corte na cidade certamente difundiu nacionalmente o nome e as águas milagrosas de Poços de Caldas, num tempo em que automóveis e rodovias faziam parte do imaginário brasileiro.
 
Importante também é entender que o Ramal de Caldas, que tinha como terminal a Estação de Poços de Caldas, serviu para o escoamento da produção de café de toda a região, além de trazer os primeiros traços de modernização e urbanização, bem como de novos horizontes culturais e materiais, trazidos especialmente pela elite paulista, impulsionada pelas belezas da modernidade europeia, como destaca Stelio Marras em “A Propósito de Águas Virtuosas”, ao afirmar que “A instalação do ramal de Caldas da Mogiana respondia assim à modernidade brasileira embutida no café que enchia vagões e trazia em troca gêneros ingleses e franceses”.

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