segunda-feira, 28 de novembro de 2011

CRISTO REDENTOR: IRMÃOS GÊMEOS?

O Cristo Redentor do Rio de janeiro foi inaugurado em 1931, mesmo ano do complexo Thermas, Palace Hotel e Palace Casino de Poços de Caldas, e é uma das referências mundiais do Brasil. Tem 30 metros de altura e muitos "irmãos" menos famosos espalhados pelo Brasil: são cerca de 250 deles, com medidas que chegam até 12 metros de altura. Em comum o fato de terem sido construídos pela família Papaiz, da cidade de Campinas, SP.
Cristo Redentor "original", no Rio de Janeiro  
A primeira "réplica do Cristo Redentor" foi produzida por Otaviano Papaiz. Na década de 1950 ele tinha uma marmoraria e trabalhava com arte sacra quando construiu uma estátua de 12 metros. “Não sei o que deu na cabeça dele”, diz o filho Ivo Papaiz, que era adolescente na época.
   
Alberto Andaló, então prefeito de São José do Rio Pardo, SP, gostou da imagem e decidiu comprá-la para a cidade. Papaiz tinha os moldes e a produção tornou-se um negócio, com estátuas de mesmo tamanho entregues em Serra Negra (SP), Taubaté (SP), Poços de Caldas (MG) e mais 15 cidades.
Taubaté, SP
Ivo garante que depois de 1964 houve aumento no número de pedidos, afirmando que só não tem "imagem de Cristo nas regiões em que Padre Cícero manda”. As réplicas foram enviadas para o Brasil inteiro: de Coari, no Amazonas, até Guaporé, no Rio Grande do Sul.
   Guaporé, RS
Não foi tarefa fácil fabricar as imagens. Papaiz construiu um modelo em barro, depois outro em gesso. A quantidade de peças varia de acordo com o tamanho da imagem: nas de 8 metros são 51 itens; nas de 12 metros são 141 partes. As primeiras peças (inferiores) têm formato de anel, o que deixaria a imagem oca por dentro, sendo recomendado colocar cimento ou até mesmo entulho na parte vazia até a metade do “corpo”, por razões de segurança.
Poços de Caldas, MG
Não era um empreendimento caro: o serviço dos Papaiz não ultrapassava o equivalente a cerca de 12 mil reais pela maior estátua o que, de acordo com Ivo, foi um dos fatores que mais ajudaram na popularização -os prefeitos não precisavam da autorização das Câmaras para "pequenas compras".

Depois de 2000, as encomendas foram reduzindo e Ivo credita isso à burocratização das prefeituras e o fortalecimento de outras religiões. Em 2005, ele vendeu os moldes e deixou o negócio. Fonte: Guia dos Curiosos, de Marcelo Duarte.
   
Mas outra história, reproduzida no site da Prefeitura de Poços de Caldas, conflita com as informações do Papaiz herdeiro da arte: "Localizado no alto da Serra de São Domingos, a 1.686 m acima do nível do mar, o monumento do Cristo Redentor impressiona pelo seu tamanho e beleza, sendo o segundo maior do Brasil".
 
Será que existem outros "segundos maiores"? Até a vizinha Pouso Alegre reivindica o posto. Se as réplicas eram feitas a partir de moldes, a variação de altura pode estar nos pedestais das imagens? Quem poderá, munido de trena e escada, elucidar os mistérios: nosso Cristo é mesmo o segundo maior do Brasil? Qual a dimensão exata da imagem, do pedestal e da base? Ou estamos diante de mais um erro histórico que, repetido, virou "verdade"?
  
Veja outras obras de Papaiz: São José do Rio Preto, SP; Amparo, SP;

terça-feira, 22 de novembro de 2011

FACHADAS OCULTAS

A foto antiga é um cartão-postal, da década de 1920. Mostra a Rua Paraná, hoje Rua Assis Figueiredo, próximo à Rua São Paulo. Ao fundo, a Serra de São Domingos, ainda sem o Cristo. A foto recente é do Google Earth.
  
Poços de Caldas precisa, urgentemente, passar por um processo como o que ocorreu em São Paulo, SP, denominado Cidade Limpa, acabando com a poluição visual que o comércio insiste em praticar, além de esconder belas e históricas fachadas. O momento é propício, pois discute-se a reforma do Plano Diretor.
   
Clique nas imagens do Memória de Poços de Caldas para ampliá-las.
   

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O TREM NA ESCOLA


Memória de Poços de Caldas foi à escola, desta vez a Criativa Idade, que está desenvolvendo, entre todas as séries, interessante e importante trabalho sobre a ferrovia em Poços de Caldas.
   
O material apresentado, o mesmo que ilustrou o pedido de tombamento de todo remanescente do acervo ferroviário ainda não protegido na cidade, serviu de base para um debate de alto nível, com alunos de diversas faixas etárias -não são crianças, são jovens atentos à realidade e às questões econômicas, sociais e políticas da cidade, sem dúvida, sob influência de um projeto pedagógico de qualidade.
   
Conversa franca e aberta que durou quase duas horas, de lá certamente brotarão muitas ideias. O projeto da escola inclui até mesmo trabalhos de campo, como visitas à Estação e trecho urbano da ferrovia, além de viagens a Jaguariuna, SP, para conhecer o trem turístico daquela cidade.
   
Parabéns à Escola, e um agradecimento especial aos alunos, professores e às diretoras Tereza e Maria Carolina.
   
Saiba mais sobre a Escola Criativa idade clicando aqui

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O TREM DE ITU - PATRIMÔNIO DE MINAS PARA SÃO PAULO

Peço aos Amigos do Memória de Poços de Caldas a leitura atenta das duas reportagens reproduzidas abaixo, enviadas pelo leitor Clodoaldo:
    
"Trem Republicano entre Salto e Itu contará com materiais mineiros
  
Governo Federal disponibilizou objetos inventariados.
Governo Federal já disponibilizou alguns materiais inventariados para o projeto do Trem Republicano entre Salto e Itu. Nos dias 3, 4, 5 e 6 de outubro, o Assessor de Gabinete de Salto, Wanderley Rigolin, e o secretário de Planejamento de Itu, Genésio Severino da Silva percorreram seis cidades do sul de Minas Gerais para reconhecimento dos materiais.
   
Além de passarem pelos municípios de Varginha, Três Corações, Pouso Alegre, Conceição do Rio Verde, Caxambu e São Lourenço, eles também participaram de uma reunião na Advocacia Geral da União (AGU), onde oficialmente celebraram um acordo de retirada dos trilhos destas cidades.
   
Devido a uma solicitação feita pelos prefeitos de Salto e Itu ao Departamento Nacional de Infraestruturas e Transportes (DNIT), em visita à Brasília, foi encaminhado o técnico Ignácio Loyola Chaves Horta, de Minas Gerais, para acompanhar os técnicos do Consórcio Intermunicipal para Implementação do Projeto.
  
Após a assinatura junto a Procuradoria da União será feita a retirada e transporte do material até o canteiro de obras em Salto e Itu. Já se estuda a logística com empresas especializadas.
   
“É uma pena que materiais chamados leves, tais como talas de junção, placas de apoio e parafusos, não mais existem nos locais, mas os trilhos estão em bom estado e são em quantidade suficientes para complementar nossa ferrovia”, declarou Wanderley Rigolin.
    
A notícia acima foi publicada em 21 de outubro de 2011, em um site da cidade de Itu.
    
É triste ver que o sul de Minas Gerais tornou-se doador de acervo ferroviário. Resume perfeitamente o descaso que vem acontecendo em Poços de Caldas e o destino que um patrimônio como o nosso pode ter. Ainda que mantendo viva a cultura simbolizada pela ferrovia, certo é que nada é melhor que o patrimônio em seu local original. O mesmo site tem uma outra referência importante ao assunto, publicada em 10 de fevereiro de 2010. Confira:
   
"Ministro do Turismo visita Itu e autoriza Trem Republicano
   
Trem Republicano entre Salto e Itu contará com materiais mineiros
Um importante passo para a concretização do sonho de um trem turístico ligando as cidades de Itu e Salto foi dado. No dia 10 de fevereiro, o Ministro do Turismo, Luiz Barreto, assinou o edital de licitação do projeto.
  
Apelidado de “Trem Republicano”, o projeto visa implantar um trem a vapor (Maria Fumaça) que percorrerá o trajeto de sete quilômetros entre as duas cidades, utilizando o antigo leito férreo da Companhia Ituana de Estrada de Ferro que foi inaugurado em 17 de abril de 1873, um dia antes da Convenção Republicana de Itu.
   
Durante a solenidade, realizada em Itu diante da antiga estação férrea do município, o ministro confirmou a liberação de mais R$ 1 milhão para as obras até o final deste ano. Até então, o Governo Federal já havia destinado R$ 4 milhões para o Trem Republicano, verba esta que será administrada pelo consórcio intermunicipal entre Itu e Salto. O projeto demandará investimentos totais de mais de R$ 10 milhões e também contará com recursos dos próprios municípios para ser viabilizado. A deputada federal Aline Correa, que também participou do evento, prometeu apresentar uma emenda para auxiliar na implantação do projeto, mas não mencionou valores.
   
O Trem Republicano pretende trazer um forte incremento ao potencial turístico dos dois municípios e de toda a região. “Eu estou muito feliz, porque eu acho que o turismo está ocupando cada vez mais espaço no desenvolvimento econômico nacional; e a gente precisa de projetos como esse, que integrem as cidades, sem concorrência, mas pensando em como torná-las roteiros complementares, usufruindo de todos os recursos que elas possuem”, afirma Barreto.
   
Há uma coincidência importante: 7 quilômetros separam as cidades de Itu e Salto -a mesma distância entre nossa Estação Mogyana, no centro de Poços de Caldas, e a Estação Bauxita. São os 7 km de trilhos que foram removidos sabe-se lá quando e por quem, e que impedem nossa cidade de ter um trem turístico ou de passageiros, ligando Poços de Caldas a São Paulo ou o centro à zona sul.
    
O projeto, orçado em cerca de R$ 10 milhões, conta com apoios importantes, como uma deputada federal se propondo a colocar uma emenda no orçamento da União, incluindo R$ 4 milhões já destinados pela União. Em Poços de Caldas temos pelo menos dois representantes regionais no Congresso, que podem propor emendas ao orçamento federal, e cabe à prefeitura buscar recursos federais -para tanto é preciso o interesse e o compromisso formal do chefe do Executivo, abraçando de verdade a causa e manifestando interesse na retomada da ferrovia, trabalhando para tanto. Talvez  com meio expediente na prefeitura fique mais difícil...
 
Memória de Poços de Caldas faz sua parte -alertar, informar e até mesmo mostrar o caminho, mas há limites, e desse ponto em diante a alçada é do Poder Executivo.
   

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

DEVOLUÇÃO CULTURAL - 50 MIL ACESSOS


Não, não há equívoco no título acima. Já passei pela fase de querer revolucionar tudo, de tentar mudar o mundo. Hoje satisfaço-me apenas tentando preservar a história desse pequeno universo chamado Poços de Caldas.
   
Menos de um ano e meio após entrar no ar, Memória de Poços de Caldas chega à casa das 50 mil visitas, número fantástico considerando-se o que o site pretendia atingir, desde o início, os que gostam da cidade, têm interesse no passado e, principalmente, os estudantes -todos podem ter acesso sem qualquer custo a um "mundo de informações". Tudo o que é publicado é fruto de pesquisas, as opiniões são duras porém justas, as fotos sempre que possível estão em tamanho grande.
    
Por isso a "devolução cultural", que revoluciona a disponibilidade de um material riquíssimo pelo mais moderno e democrático meio de comunicação -a internet.
  
Há outros desafios, que não se esgotam apenas na exibição e análise do passado, mas especialmente a ambiciosa manutenção da história e a preservação do que hoje existe e o despertar do interesse dos leitores, de modo que cobrem de nossas autoridades o cumprimento de suas obrigações diante de um riquíssimo passado que vai além de roletas e banhos sulfurosos. Há, por fim, o "ir um passo adiante", aliando o jornalismo às ações cidadãs -quem acompanha minha luta pela Ferrovia já percebeu isso.
   
Em cada centímetro de Poços de Caldas transpira-se e respira-se história. E, definitivamente, quem não conhece seu passado não sabe aonde irá no futuro.
   
Tenho orgulho desse trabalho. Muito obrigado pela confiança.
   
Rubens Caruso Jr.
 
Clique nas imagens do Memória de Poços de Caldas para ampliá-las. A que você observa acima é uma produção do site com duas fases da Avenida Francisco Salles, destacando o antigo Mercado Municipal e o Monotrilho.
   

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O TREM DE CAMPOS DO JORDÃO

Notícia publicada no site UOL:
    
"Estrada de Ferro de Campos do Jordão será recuperada
São Paulo - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, anunciou nesta quarta-feira a recuperação da Estrada de Ferro Campos do Jordão. Serão investidos R$ 4,1 milhões na ferrovia por meio da Secretaria dos Transportes Metropolitanos (STM). Os recursos serão destinados à compra de máquinas e equipamentos necessários à manutenção das vias. Segundo governador, a revitalização será feita dentro da proposta de trens turísticos. A previsão é que as obras fortaleçam o turismo na região.
  
Em maio deste ano, a ferrovia já havia recebido R$ 2,9 milhões para obras emergenciais, que foram concluídas em outubro. As obras permitiram o restabelecimento das viagens turísticas que atendem os roteiros Campos do Jordão-Pindamonhangaba e Campos do Jordão-Santo Antônio do Pinhal. Os ingressos para as viagens de sexta, sábado e domingo já estão esgotados até o dia 9 de janeiro do próximo ano. Daqui a três anos, a Estrada de Ferro comemorará 100 anos de atividade".
  
Mal comparando, a Ferrovia em Poços de Caldas, se estivesse operando, teria completado 125 anos, inaugurada como ramal da Mogyana em 22 de outubro de 1886. Em São Paulo, o governador anuncia o investimento milionário no trem turístico, enquanto nossa cidade tenta sepultar rapidamente o patrimônio ferroviário, cercando a Estação com muros privados "devidamente" autorizados pela prefeitura. Importante observar a demanda turística em Campos do Jordão: aos finais de semana os ingressos para passear no trem estão esgotados até janeiro, enquanto em nossa Estação jaz um improvável trailer em cujo interior estão depositados -acredite- bambus!
   
Felizmente resta a esperança no Ministério Público Federal (não confundir com o MP estadual), que está bastante empenhado em preservar o que pertence a todos os brasileiros. Por aqui, decorridos três meses desde que foi protocolado pelo editor do Memória de Poços de Caldas um pedido de tombamento de todo o remanescente do patrimônio ferroviário, no Condephact, este conselho sequer se dignou a informar se o assunto andou. No site da prefeitura constam apenas as lacônicas expressões "tramitando" e "atrasado" -muito pouco diante da importância da ferrovia na história da cidade. No mesmo site é possível acompanhar a importantíssima notícia sobre a instalação de painéis fotográficos nos tapumes que cercam a Thermas Antonio Carlos, destacando inclusive que o trabalho tem "patrocínio" da empresa que está reformando o Balneário.
  
Enquanto isso, servidores da prefeitura prometem aos moradores da rua Beira-Linha o asfaltamento no local. Patrimônio histórico asfaltado, pode? 
   

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A PREFEITURA ERROU. NO MÍNIMO.

Modelo de preservação de área tombada pelo Patrimônio Histórico, como acreditam Prefeitura e Condephact
Tantas são as leis, decretos, resoluções ou outros muitos nomes a reger a vida dos cidadãos poçoscaldenses que nem mesmo o mais preparado dos vereadores é capaz de dizer quantas leis municipais vigoram em nossa pequena cidade.
   
O que é certo é que existe uma hierarquia de normas e em Poços de Caldas há a Lei Orgânica do Município, verdadeira Carta Magna, uma "Constituição" da cidade.
   
E é justamente a maior lei da cidade que vem sendo "atropelada" por aqueles que juraram cumpri-la: os poderes Executivo e Legislativo -a Câmara simplesmente fazendo vista grossa ao que se passa muito próximo de sua sede, na área vizinha à Estação Ferroviária, espaço tombado e por isso, protegido como patrimônio histórico há quase duas décadas, parte dele ora ocupado por um posto de combustíveis e um restaurante que, sob anuência do Executivo, construíram muros sobre o leito da ferrovia (o local de circulação dos trens), além de uma central de gás e até mesmo um inimaginável lavador de carros, entre outros, "tudo dentro da mais absoluta legalidade", dizem as autoridades municipais e até mesmo estaduais, amparados por exemplo pela autorização que teria sido concedida pela secretaria municipal de Planejamento para as intervenções.
   
E o que diz a Lei Orgânica? Confira:
  
"Art. 15. Leis próprias disciplinarão a utilização de bens imóveis públicos edificados de valor histórico, arquitetônico ou artístico, bem como a composição, defesa, utilização e alienação dos bens públicos municipais. 
Art. 16. Os bens do patrimônio municipal devem ser cadastrados, zelados e tecnicamente identificados, prioritariamente as edificações de interesse administrativo, as terras públicas, os bens móveis e a documentação dos serviços públicos. 
Art. 17. É vedado ao Poder Público descaracterizar praças, parques, reservas ecológicas e espaços tombados no Município, ou neles abrir vias públicas e edificar, ressalvadas, mediante autorização legislativa, as construções estritamente necessárias à preservação e ao aperfeiçoamento das mencionadas áreas".
   
Observe bem a foto acima: trata-se de uma área tombada pelo Patrimônio Histórico, e o artigo 17 citado é bem claro: o Poder Público (a Prefeitura Municipal de Poços de Caldas) não pode descaracterizar espaços tombados pelo município. Dirão os mais afoitos que "não foi a prefeitura que descaracterizou, mas o legítimos donos do espaço". Ora, mas se é área tombada e, portanto, de interesse coletivo, como explicar que a prefeitura, se não autora da descaracterização, tenha concedido o direito de descaracterizar, logo ela, quem tem a missão de cuidar o que é do Povo ? Trata-se de perigoso precedente, pois doravante todo proprietário de bem tombado, por analogia, terá direito de descaracterizar seu imóvel -e uma fachada clássica não difere em nada de uma leito de ferrovia quando o assunto é preservação.
   
Consulta ao arquivo digital de leis no site da Câmara Municipal aponta como tombados, além da Estação Ferroviária e adjacências, os seguintes imóveis: os prédios do Aeroporto, Prefeitura e Country Club, a Fonte dos Amores e o Véu das Noivas -todos esses "bens públicos", além de quatro igrejas, incluindo a Matriz. Não consta qualquer bem privado como "tombado".
   
Para que não passe sem sanção qualquer falha na preservação dos bens, o artigo 18 da Lei Orgânica esclarece: "Verificada a lesão ao patrimônio público e a impossibilidade de reversão, o Poder Executivo tomará as medidas judiciais cabíveis, visando ao ressarcimento dos prejuízos, sob pena de responsabilidade".
   
Parece mais complicado do que realmente é. A área tombada junto à Estação Ferroviária é, definitivamente, um patrimônio público -não fosse, não teria uma lei (5.376, de 1993) que especificamente tratou de (tentar) proteger todo o perímetro que vai do Girador de Locomotivas até as primeiras casas funcionais da rua Beira-Linha, e do morro até a Avenida João Pinheiro; há sim lesão a esse patrimônio, no mínimo pelo impedimento de circulação de pessoas por conta de muros que fecharam o leito da ferrovia, sem falar da descaraterização física, e nisso a própria prefeitura contribui transformando a área da plataforma em depósito de materiais da secretaria de turismo ou em estacionamento de carrocinhas de garis, além de uma porca rampa para acesso de veículos apoiada no piso da plataforma, entre muitos outros absurdos. Todo esse descaso está lá, à vista, como para demonstrar quem é que manda e desmanda na cidade.
   
O artigo 18 fala da "impossibilidade de reversão", o que o próprio Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico assegura não haver, pois os "muros seriam removidos" ante a presença de uma locomotiva se aproximando (metaforicamente, claro), mas fica difícil imaginar o Poder Executivo tomando "medidas judiciais cabíveis" contra si, pois é a própria prefeitura que liberou e mantém viva a descaracterização do patrimônio histórico. E vem mais por aí, caso de uma placa de um projeto social a ser instalada na fachada do armazém da Estação.
  
Se a lei municipal maior não basta, invertendo-se a hierarquia dos diplomas há a Lei Complementar 70, promulgada na gestão passada (e da qual o atual prefeito participou como co-líder), que é clara em seu artigo 9o.: "Os bens tombados não poderão ser alterados sem PRÉVIA (grifo nosso) autorização do Condephact". E a quase totalidade das intervenções no patrimônio tombado se deram à revelia do Conselho, que é presidido por um funcionário comissionado da prefeitura e exerce cargo de direção na Secretaria de Planejamento -deve ser uma tarefa árdua decidir entre o pretensamente interessante para a cidade e a manutenção de um patrimônio tombado por lei.
   
Passou da hora da responsável Prefeitura reverter o estrago. Sob pena do atual prefeito carregar em seu currículo a marca histórica de "prefeito que liquidou de vez a ferrovia em Poços de Caldas". Por ação ou omissão. 
   
Clique nas imagens do Memória de Poços de Caldas para ampliá-las.