segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

REESCREVENDO A HISTÓRIA DA CIDADE

A Prefeitura de Poços de Caldas publicou, recentemente, um sofisticado material, de responsabilidade da Secretaria Municipal de Turismo e Cultura e da Secretaria Municipal de Comunicação Social, denominado "Poços de Caldas de braços abertos para você". Para quem conhece um pouco de artes gráficas, o catálogo conta com acabamento em verniz, que confere um brilho especial ao papel de alta gramatura adotado, além do refilado superior com faca especial, que dá um efeito de movimento em ondas ao produto, entre outros requintes. Nada disso importa se o assunto é a história de Poços de Caldas, foco deste site.
   
É justamente ao falar do passado da cidade que a prefeitura atropela a história do Brasil. Uma das seções (foto abaixo) do folheto destaca:
  
"Você sabia? Já hospedamos Dom Pedro II e sua esposa, a Imperatriz Dona Leopoldina, que vieram para a inauguração do ramal da Estrada de Ferro Mogiana. Esse acesso trouxe grande parte dos turistas de São Paulo para cá, desde o início do século XX".
Dom Pedro II veio a Poços de Caldas em 1886, de fato, para inaugurar o Ramal de Caldas. Até aí nada de novo. Que o Imperador veio acompanhado da Imperatriz e comitiva também é assunto bastante conhecido. O que não se sabia, até o momento em que a prefeitura resolveu reescrever a história do Brasil, é que a Imperatriz Leopoldina, apontada no texto oficial, era "esposa" de Pedro II. Não era esposa mesmo, mas a mãe do monarca!
 
Além disso, um impedimento certamente importante para uma eventual vinda da Imperatriz Leopoldina é ela ter morrido em 1826, portanto 60 anos antes da visita real a Poços de Caldas. Já a Imperatriz Tereza Cristina (a que veio...), essa sim a Imperatriz consorte e esposa de Dom Pedro II, morreu em 1889, pouco mais de um mês após o golpe militar que derrubou a monarquia e três anos após sua passagem por Poços de Caldas.
   
O legado cultural de Dom Pedro II é muito importante e sua memória requer respeito. Um exemplo: ao doar seu acervo iconográfico para a Biblioteca Nacional, o Imperador exigiu apenas que a coleção, com mais de 20 mil imagens, levasse o nome da Imperatriz -Colleção D. Thereza Christina Maria. A coleção recebeu reconhecimento pela Unesco, inscrita no Registro Internacional da Memória do Mundo, em 2003.
 
Não se pode considerar o grave erro cometido pela prefeitura um mero fato isolado. Carrega um simbolismo forte, que resulta de décadas de abandono da preservação da história de Poços de Caldas -e a insistência do Memória de Poços de Caldas na questão do patrimônio ferroviário parece não sensibilizar as autoridades locais. O que não desanima, ao contrário.
  
Ainda que a cidade tenha uma Praça Dom Pedro II (chamada Praça dos Macacos), o que de mais importante o Imperador deixou em Poços de Caldas -o Ramal de Caldas da Cia. Mogyana- está sendo varrido para baixo do tapete.
 
Clique nas imagens do Memória de Poços de Caldas para ampliá-las.
   

4 comentários:

AnaCristina disse...

é piada? porque nao achei a menor graça.
:-(
e o que fizeram com os enfeites de natal do ano passado? ta certo que nao se deve gastar dinheiro mas cade o que sobrou do ano passado? esse ano achei um pouco "pobrinha" a decoração...tive essa impressao...tudo bem que foi para economizar mas nao sobrou nada pra aproveitar dos outros anos?

Rafael Ferreira disse...

Parece que alguem ditou pela memória essas ''curiosidades'' que deviam constar no catálogo,e se houvessem outros erros crassos,estes estariam igualmente publicados...ridículo!Coisa de amador,de ignorante,de gente relaxada...

José Adriano disse...

Incrível o desprezo que essa prefeitura tem com sua própria história. É isso que dá ter prefeito "de fora", que não está nem aí para o passado da cidade. É a terceira deslizada grotesca seguida -essa, a do aniversário da sede da prefeitura e aquela do Cristo, que tem centenas de réplicas, todas elas as "segundas maiores do Brasil".
Rubens, em nome da cidadania poços-caldense, pelos ótimos serviços prestados, nomeio você consultor popular de história da cidade!
Parabéns!

Denis W. Esteves disse...

Caruso,
Ao ler as idiotices que esse pessoal da prefeitura escreve (e ainda se gabam disso!)eu senti "vergonha alheia". Mesmo não sendo de Poços de Caldas, fiquei profundamente envergonhado com isso. Não desculpas para atenuar o erro grotesco. A inauguração do Ramal de Caldas com a presença do casal imperial é o evento de maior relevância da história de Poços de Caldas, e portanto não é possível que o pessoal da prefeitura erre nesse ponto. Se não pelo conhecimento da História local, pelo menos pelos rudimentos de História do Brasil que se aprende na escola. Na pior das hipóteses, até mesmo uma rápida e descuidada pesquisa na internet apresentaria resultados mais corretos e mais ricos em detalhes.
Isso mostra o quanto a administração municipal é despreparada e incapaz de ações simples como a elaboração de um simples folheto de apresentação da cidade.
A julgar por esse fato, se o patrimônio ferroviário de Poços de Caldas está sendo desmantelado dia-a-dia, toda a história que ele representa já se foi pelo ralo.
Abraços,
Denis

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Memória de Poços de Caldas é um trabalho cultural, sem fins lucrativos, e democrático. Aqueles que quiserem se comunicar diretamente com o autor podem fazê-lo pelo email rubens.caruso@uol.com.br .