terça-feira, 6 de setembro de 2011

POÇOS DE CALDAS, 1961

Do acervo do Memória de Poços de Caldas, reportagem publicada pela revista Quatro Rodas, em março de 1961, mostra como era a cidade há 50 anos, com seus 39 mil habitantes e 87 hotéis. Acompanhe.
ÁGUAS DE SAÚDE BROTAM DOS VALES
No centro da cidade de Poços de Caldas, a conhecida "Fonte dos Amôres" é ponto de visita obrigatório: romântico. 
A 4 quilômetros, a "Cascata das Antas", onde as águas despejam de cêrca de 40 metros de altura: majestoso.

QUATRO RODAS começa neste trabalho a vi­sita às nossas "estações". Estabelecemos um pri­meiro roteiro, que compreende Poços de Caldas, Serra Negra, Águas de Lindóia e Águas da Prata. Outros roteiros se lhe seguirão em breve, até que tenhamos completado um panorama geral. Para to­dos os gostos e todas as necessidades. Apresentando um relato sucinto, sobre as virtudes clínicas, para os que têm um "fígado aborrecido"; descrevendo as cidades, para os que querem escolher o mais apro­priado sítio de descanso; analisando o conjunto de atrações turísticas, para os que querem fugir das cidades, mas encontrar no destino um pouco de di­versão a par de higiene mental. Abrindo a série. . . 
...Poços de Caldas, vulcão de saúde 
Assentada num grande vale (muito parecido com uma enorme cratera vulcânica) e circundada pelas serras de Poços, Caldas e Caracol, Poços de Caldas é a mais elevada das cidades sul-mineiras: 1.186 metros acima do nível do mar. Tem todas as con­dições para confirmar a sua tradição de primeira estância hidromineral brasileira. Com seus 87 esta­belecimentos hoteleiros, agradável paisagem natural, clima ameno e regular (diz-se que Poços não tem verão e inverno, mas tem só 12 meses por ano), tradição de seus festejos carnavalescos de rua, manifes­tações folclóricas (dançam-se nas ruas, de 1 a 13 de maio, o caiapó e a congada como parte dos fes­tejos de São Benedito), água "quente" e um bom balneário, nada falta a Poços para se firmar nessa disputada liderança. Foi, de fato, difícil esquecer que tudo deveria vicejar à sombra do jogo (que "vira-e-mexe" se abre novamente por pequenas tem­poradas); hoje, já se constrói sob outra mentalidade.
  
A cidade tem 80 anos e o conhecimento de suas virtudes remontaria a épocas imemoriais, "quando caçadores e boiadeiros se assustavam ao verificar a predileção dos animais pela água dos poços de Caldas, onde sempre iam beber, e cujos sais lhes proporcionavam fantástica engorda". Em agosto de 1884, era inaugurado o "Hotel da Empresa", com 60 quartos e diária de cinco mil réis.
  
O município tem hoje 38.760 habitantes, dos quais 32.500 na cidade, vale dizer, sem população rural. Sua população flutuante média anda por volta dos dez mil forasteiros.
   
Quarenta médicos locais prescrevem e acompa­nham o uso das águas de Poços de Caldas para os reumáticos, doentes da pele e da nutrição, into­xicados e os que sofrem de bronquites e inflamações internas. E -muitas vezes- contra-indicam para os escleróticos muito idosos, os que sofrem de nefrite, caquexia, cardíacos e tuberculosos.
Tem poesia e usina atômica 
Cavalos, charretes e carrinhos de bode (para os guris) são os mais apreciados meios de locomoção em Poços de Caldas. Uma constante em qualquer canto da cidade. Em todos os passeios tradicionais (que são muitos). Por falar em passeios, não se pode esquecer um outro tipo de "passeio" muito típico: o vaivém de todas as noites na praça prin­cipal: das 6 às 10, o movimento é muito grande, para gáudio dos jovens (e dos crescidos, também). Vamos falar dos passeios de Poços de Caldas, avi­sando, antes, que até nisso parece ser funcional a natureza caldense, pois não há coisas extraordiná­rias para serem vistas e, sim, agradáveis recantos, renovando o convite para o repouso e o sossego.
FONTE DOS AMORES - No centro da cidade, é um recanto bucólico, em meio a um parque montanhoso, onde a água corre em filetes, mansamente, até uma esplanada: aqui, repousa uma estátua em mármore, inspiradora do nome da fonte. Recanto sossegado, onde os turistas vão ler um livro, tirar fotos, e os namorados, sonhar.
CASCATA DAS ANTAS - Situada a 4 quilô­metros, às margens da estrada São Paulo-Poços de Caldas. De cerca de quarenta metros de altura, o rio despenca-se sobre pedras. Na época das chuvas o espetáculo é bonito porque é grande o volume d'água: chega a proporcionar impacto; na seca, a água é pouca: vale o encanto de um lugar bonito.
CRISTO REDENTOR - Com 16 metros de altura e mais 16 de pedestal, ergue-se sobre o morro de São Domingos, a 1.640 metros, uma cópia do Cristo do Corcovado, dominando a cidade. São três quilômetros de subida íngreme, até a estátua; de lá se descortina toda a cidade. Pelo mesmo caminho, com uma variante à direita, vai-se à Pedra Balão, uma singular combinação de duas pedras super­postas. 
REPRESAS - Duas são as represas em Poços de Caldas: a Bortolan, na estrada de São Paulo, e a Saturnino de Brito, na de Caldas. Junto à cidade, constituem-se em agradáveis passeios. Lá, são alugados barcos e remo, pelo preço de cem cruzeiros à hora. 
CRISTALERIA TIPO MURANO - Na Praça Pedro Sanches, 185, o turista pode conhecer os artigos, e na Av. João Pinheiro, 1.707, conhecer a fabricação de cristais tipo Murano, feito por vene­zianos. É uma das poucas fábricas nacionais no gênero e a visita é sempre interessante. Com o pó de quartzo (de Minas Gerais, mesmo), a uma tem­peratura entre 1.000 e 1.300 graus, são moldadas as peças tão conhecidas. A peça mais barata é um "espeto de azeitona", com cabeça de bicho (10 cruzeiros) e a mais cara, um galo de meio metro (2 mil).
CHÁCARA NELLO VITI - Para quem aprecia comer a fruta colhida na hora, recomenda-se uma visita à chácara do Sr. Nello Viti, na Av. João Pi­nheiro, 1.135. As épocas das frutas e seus preços, médios: figo (novembro/abril), 20 cruzeiros a dú­zia; uva (janeiro/março), 40 cruzeiros o quilo; pês­sego (novembro/fevereiro), 80 cruzeiros a dúzia; ameixa (janeiro), 80 cruzeiros a dúzia; peras (ja­neiro), 15 cruzeiros o quilo.
Enquanto não chegam os fregueses mirins (100 cruzeiros à hora, para girar pela cidade), 
o bode descansa de sua faina, mesmo atrelado ao carrinho que faz a alegria da petizada.
A região é grande produtora de vinhos. Na própria cidade, há depósitos de vários fabricantes (Velho Marcassa, por exemplo), onde os vinhos podem ser adquiridos por um preço de 10 a 20 por cento mais barato. Mas, para conhecer a plan­tação da uva e a fabricação dos vinhos, QUATRO RODAS recomenda duas pequenas viagens (de cer­ca de 40 quilômetros cada), por estradas de terra, a. . . 
... Andradas, terra do vinho Madeira 
Pelas condições do clima, a região de Andradas foi escolhida para a fabricação de um tipo espe­cial de vinho: o "Madeira". Como na Ilha, ali "vingaram" bem as uvas de clima quente: "jacque" e "rolanda". Duas fábricas desse tipo de bebida ali se instalaram e podem ser visitadas pelos turistas. Uma, é a "Isidro", cujos rótulos, com "M" e "R", são bem conhecidos, e outra, a "Nau Sem Rumo". Em ambas, podem ser admiradas as filas de tonéis de madeira, onde os vinhos são conser­vados e envelhecidos artificialmente, por ação tér­mica: alega-se que cada 6 meses de calor equivale a 10 anos de envelhecimento natural. Dizem os técnicos que o vinho tipo "Madeira" de Andradas não difere do da Ilha. Lastimam só que, obviamen­te, lhes faltem ainda os vinhos velhos (de 100 e 150 anos) que existem na Ilha da Madeira e que são utilizados para "apurar" as safras recentes. E em CALDAS muitas outras fábricas podem ser visitadas. Vale a pena ir até a Estação Experi­mental de Enologia, do Ministério da Agricultura, onde mais de quatro centenas de variedades de uvas são plantadas e experimentadas. Lá, podem ser provados vinhos dos mais diferentes tipos.
   
Em Poços de Caldas podem ser adquiridos alguns artigos locais interessantes: trabalhos em madeira e couro, da Escola Profissional Dom Bosco; man­teiga (280 cruzeiros o quilo), da Laticínios Caldas; compota de pêssego (vidro de 2 quilos, 300 cruzei­ros) e doces, da Frutícola.
Para tratamento de saúde
As águas de Poços de Caldas são termais, sulfu­rosas e bicarbonatadas. Todo tratamento deve ser feito com orientação médica. Servem para beber (fontes Frayha, Macacos, XV de Novembro, San­tana, Ferruginosa, Nossa Senhora da Saúde, Bela e D. Amélia); para banhos (e tratamento fisioterápico), contando-se para isso as seguintes termas: Antônio Carlos (bem aparelhada); privativas dos hotéis Palace e Quisisana e o Balneário dos Maca­cos (popular). Aproveitando as condições excep­cionais de Poços de Caldas, o governo está cons­truindo, à margem da estrada de Andradas, a 9 quilômetros, a primeira usina de beneficiamento de minérios atômicos, para obtenção de urânio nuclear­mente puro. Um bonito passeio para se conhecer uma obra pioneira. 
87 hotéis em Poços
É muito elevado o número de estabelecimentos hoteleiros em Poços de Caldas: 87, entre hotéis e pensões. Desses, cerca de vinte se situam num pla­no médio de qualidade e serviços, sendo muito procurados durante o ano todo: é o caso do Presi­dente, Imperador, Lafaiete, Gambrinus, Rex, Lealdade, Oeste e o novo (recém-inaugurado) Alvorada Palace.
  
QUATRO RODAS recomenda os seguintes ho­téis: Palace, Minas Gerais e Quisisana. O Palace está situado na parte mais central da cidade e dis­põe de termas sulfurosas quentes próprias, com ins­talações privativas em 25 apartamentos. Tem 115 quartos (preços com refeições: casal 2.300/2.600 e solteiro, 1.260/1.600 - sem refeições, respectiva­mente, 1.470/1.800 e 870/1.700 cruzeiros) e 170 apartamentos (com refeições, 2.610/3.100, casal e solteiro, 1.600/1.700 - sem refeições, 1.800/2.360 e 1.030/1.400, respectivamente). Os apartamentos de luxo e semiluxo (com águas termais em cada um) são alugados aos preços, variáveis por pessoa, de 1.900 a 2.275 cruzeiros, com refeições, e 1.500 a 1.875, sem refeições. O Palace dispõe de vários salões de festas (antigas dependências de jogo), "boite", teatro de bolso e bar. Suas reservas podem ser feitas diretamente, pelo telefone 392. Um cardápio típico do Palace: frios sortidos e saladas; canja; ravióli à piemontesa; bifes de caçarola; arroz, feijão e legumes; porco assado com tutu de feijão, couve e lingüiça; arroz doce.
   
O Quisisana localiza-se em amplo parque a 1,5 km do centro da cidade, e é o que dispõe de maio­res motivos de atração esportiva para o hóspede. Tem águas sulfurosas frias, 4 piscinas, sendo duas internas de água aquecida, departamento de fisio­terapia, quadras de tênis, além de "boite" e cine­ma. Tem 131 quartos (diárias com refeições: casal,1.900/2.150; solteiro, 1.200/1.350 cruzeiros); e 152 apartamentos (casal, 2.350/3.000; solteiro, 1.550/2.400) e mais 48 apartamentos de luxo, com banhos sulfurosos privativos (casal, 2.700/3.500 cruzeiros).
 
Cardápio de uma refeição qualquer do Quisisa­na: frios diversos e saladas; creme de mandioquinha; canja; croquetes de carneiro à "Vílleroy"; fran­go de caçarola à familiar; rosbife à inglesa; legu­mes; torta imperial. Refeição avulsa: 450 cruzeiros.
   
Pormenor importante (e original) no Quisisana; este é um hotel que só fica aberto meio ano, ou seja, de dezembro a abril e durante o mês de julho. Nos meses de maio, junho, agosto, setembro, outu­bro e novembro, cerram-se suas portas. Reservas an­tecipadas: Rio de Janeiro, fone: 22-8554; São Pau­lo, fone: 37-9331.
   
O Hotel Minas Gerais localiza-se na parte cen­tral da cidade e dispõe de 84 apartamentos (casal, 1.700/1.800 cruzeiros; solteiro, 1.000). Um car­dápio típico: maionese, frios e saladas; canja; "gnocchi" à piemontesa; tira argentina, batatas na manteiga; "entrecôte" grelhado ao mandiopã; ba­nanas ao forno. Refeição avulsa: 280 cruzeiros. Reservas podem ser feitas diretamente (fone 227) ou nas seguintes agências: Exprinter, Cook e Geral, em São Paulo e Rio de Janeiro.
   
Durante o período de temporada, funcionam to­das as noites as duas "boites" da cidade: a do Palace (mais movimentada) e a do Quisisana. Fora dessas épocas, esta última também se mantém em funcionamento permanente, enquanto que a pri­meira só o faz às quintas, sábados e domingos. No Palace, é cobrada entrada: cavalheiros, 200 cru­zeiros; damas, 100, não havendo exigência de consumação mínima, como não há no Quisisana, igualmente.
  
Fora dos horários de refeições, dois restaurantes são muito procurados e podem ser recomendados: Castelões e Progresso. Para "esticadas" na madru­gada, só o "Araújo", onde vão os "boêmios", ou o seu vizinho (um bar de aspecto regular), o "Sem-Sem", onde os "conhecedores" vão comer o seu bife antes do amanhecer.
No centro da Praça Pedro Sanches, o Palace Hotel. Logo atrás, a fonte luminosa, 
orgulho da cidade e uma das mais belas de todo o País.
Abaixo, reprodução do mapa de três páginas encartado na revista. Observe o trecho da estrada entre Águas da Prata e Poços de Caldas -não havia asfalto.
   
Clique nas imagens do Memória de Poços de Caldas para ampliá-las.

2 comentários:

Rafael Ferreira disse...

Caramba...todos os acessos da cidade eram por estradas de terra ainda...

AnaCristina disse...

lindo post!

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